quarta-feira, 30 de maio de 2012

Aqui

Não sei como será, e já estou dizendo adeus dolorosos a ruas que ainda não me deixaram. Me imagino vivendo em um lugar que talvez não seja meu. Tô me expulsando do berço sendo que ainda não consigo andar.
Preciso de mais força. Preciso de mais tempo longe das corujas maravilhosas que vivem naquele espaço gigantesco. Preciso de mais tempo longe de tudo o que eu amo porque tudo o que eu amo é tudo o que eu sou.
E eu preciso de um tempo longe de mim, porque quero ser outra coisa.
Seus poemas me doem a alma.
Aquele corredor é infinito e não tem escapatória.
Os ônibus são barulhentos e passam por ruas severamente conhecidas.
Que não aguento mais.
Flores que não aguento mais ver.
Cores que não suporto.
Não quero lago.
Não quero mar.
Quero concreto.
Quero o artificial.
Carros, problemas, enchentes, metrô lotado, cidade lotada, ônibus lotado.
Preciso de mente lotada pra me esquecer de tudo o que não quero saber.
Não sei se me perdi mas não quero me encontrar, nem virar a rua e topar com alguém.
Nem esperar o ônibus e topar com alguém.
Não quero super-ar as- quadras, não quero as satélites, não quero todos os erros que continuam cometendo com essa cidade e que a cidade joga em mim.
Não quero Galeria dos Estados.
Bancos que se importem comigo.
Nem Sonhar de Olhos Abertos.
Não quero mais a Universidade de Brasília.
Não quero mais a seca que racha lábios
e corações.

sábado, 19 de maio de 2012

Quero ser Bukowski

Ando chateada com meu passarinho azul. Ele demora a cantar... e quando canta é desafinado. Erra notas. Canta a música errada.
Ando chateada com meu passarinho azul. Digo que se ele cooperar, vou tirá-lo da gaiola um pouco, deixar algumas pessoas verem, dizerem como ele é pequenino e felpudo. Mas ele ainda erra as notas, e ainda canta desafinado.
Fico chateada com meu passarinho azul, então fumo cigarros. E choro, pra que ele fique sem água. E não como, pra que ele não tenha forças... Não como pra que ele não cante errado, desafinado.
Em algumas madrugas ele me acorda. Consegue cantar. Consegue me fazer feliz. Fica pousado na cabeceira que nem existe, esperando que eu faça algo.
Mas fico cansada demais. Ando cansada demais. O seguro com as duas mãos e o devolvo pra dentro.
Viro pro lado.
Durmo.
Ele não volta mais.

Hoje em dia ele não canta mais.

Be free from it all

Brasília me deixa tonta. Os pássaros da UnB voam demais. Piam demais. Os Pavilhões geram muito eco, e não se escuta um respirar no subsolo da Biblioteca. O ICC  é movimentado demais, é todo mundo desconhecido demais. Mesmo os que abraço. Mesmo os que me abraçam.
Sinto falta do metrô. De dormir com meu amor. Dos ônibus ligados aos cabos de energia, como grandes bondes. Das praças em todo lugar.
De ruas se encontrando.
De não encontrar ninguém.
Brasília me sufoca. Tudo que eu já conheço me sufoca. Os prédios são bonitos demais. Não combinam comigo. A cidade é bem resolvida demais. Não combina comigo.
Agora cercam os prédios. Vamos perder o tombamento. Ninguém faz nada. Não combina comigo... a falta de ação.
Quero prédios velhos, igrejas velhas, a velha poluição pairando no ar. Umidade e frio ao mesmo tempo.
Não quero ter que escolher, porque eu não sei.
E eu nunca faço.
Quero Luisa de Camões. Quero o museu mais bonito do Brasil.
Quero sair do fundo do oceano.
Quero não mais estar afogada.
Quero me segurar em algo
Que não seja alguém.