Eu penso na inveja que sinto do seu talento. No quanto eu acho injusto tudo o que você tem. Pior que isso, eu não o invejo porque queria ter o que você tem, e sim porque não me sinto incluída. Não me sinto parte da parte mais bonita da sua vida. Da criação, da arte.
Me incomoda conversar sobre o talento que você nega ter, que jura que possuo. Choro quando te ouço dizer que eu poderia fazer coisas incríveis, desde que me concentrasse no que quero, enquanto você é incrível apenas dormindo na rede.
Olho pra você, lembro das nossas tardes nos cafés da cidade-modelo e penso em tudo o que já me disse. Em tudo que poderia citar em um livro, um poema, uma entrevista. Penso em todo o sentido que você me dá.
Te encaro, olho nos seus olhos, e vejo o tom mais bonito. E após todos os nossos encontros, passo horas enxergando o mundo nesse tom castanho dos teus olhos. Nesse tom sóbrio, e quente, e ensolarado.
Tento te escrever, me inspirar em você e em suas covinhas. Nas veias dos seus braços tão brancos.
Mas não tenho talento. E me dói porque queria ter. Porque vivo pra isso. Porque sonho com isso. Com todas as expressões significativas que poderia criar. Com todas as pessoas que iriam me dizer que se inspirara em mim pra fazer o mesmo que eu.
Mas não tenho talento, e me falta tanto. E por mais que tenha em meu coração um amor inviável, e por mais que sinta saindo de mim uma doçura alucinante, me falta o que mais amo, o que mais preciso, o que me faz pulsar.
Me desculpe por deixar a falta me afetar. Sou ingrata. Sou insegura. Sou horrível. Desejo a beleza que não terei, o dinheiro que não terei, o talento que não nasci pra ter.
E por mais que esmague, e que doa, e que amargue, e que me faça sofrer, o castanho que vejo em tudo por sua causa sempre irá me inspirar, por mais incapaz que eu seja de criar.
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