sábado, 14 de julho de 2012

O tempo em que

Me pergunto o que aconteceu. Quando deixei de ser engolida por textos, cenas, ideais, ideias. Eram enxurradas. Eram gotas caindo sem nenhum tipo de ordem. Tantas. Grossas, finas, fracas, fortes, coloridas, preto e branco. Mas existiam, me pertenciam, me acariciavam. Eram como os bancos de Tereza, e os casos de Tomas. Nunca soube realmente o que fazer com tudo aquilo, era muito complicado, era muito parecido. Muito pessoal.
E não consigo falar sobre o cheiro de pessoas desconhecidas que me toca. Não consigo falar sobre os filmes bonitos que me tocam. Não consigo falar sobre as músicas, os passos, os ventos.
Penso que com sons seria mais fácil. Não é. Penso que com fotografias seria mais fácil. Não é. Penso que seria mais fácil, se por acaso...

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Jesu

Ser feliz no amor é só coincidência.
Que nem achar a face de Jesus no pão
Toda manhã.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Wouldn't Mama Be Proud

É difícil dizer o que tem de errado. Eu ainda não me resolvi, e ainda quero ser tudo. Não sei o que sou, não sei o que não deveria ser. Minha compreensão é minúscula e pra não faltar o clichê, pessoas são cruéis. Pregam uma gentileza que não fornecem. Pregam uma compaixão que não te dão. Gritam e gritam e gritam que você quer atenção só pra ver se chamam a dos outros. Dizem que você não é mas te tratam como se fosse. E fingem que não estão. Vozes me irritam tilintos gotejos barulhos ventos momentos eventos. Sou engolida por dores que não conheço. Por culpas que não entendo. Por espelhos demasiadamente sinceros. O ser humano é naturalmente social e eu só tenho as mesmas faces e as mesmas vozes. Quanto mais me abro mais afasto o mundo. E não posso falar porque não me escutam.

Little Red

Não há café. Não há cigarro. Não há apartamento. Não há asa. Não há gato. Cachorro. Raposa. Não há chuva. Não há beijo na chuva.
Sei que tem pressa, e vontade.
Mas eu sei que não há razão. Que não há possibilidade. Que não há futuro. Posso passar a noite, mas noites são partes, parcelas, metades.
A vida é inteira, mas eu não sou. Não sou nada ainda. Sou anseios. Sou o que apenas dezoito anos puderam gerar. Muito pouco, quase nada. E você é um mundo todo.
Quero tudo e quero nada.
E "tudo que posso ter não é tudo que você pode me dar".

segunda-feira, 2 de julho de 2012

I've been such a disgusting girl

Na cama não sou espaçosa. Me comprimo, me encontro em posição fetal. Suas mãos eram quentes, ainda são. Passavam pelo meu cabelo, rosto. Bochechas, nariz, boca, queixo. Pescoço, ombro. Seios, cintura, bunda, pernas. Pousavam em meu quadril, quentes, como uma fornalha.
Eu dormi todo os dias virada pra janela, se não me engano. A luz do sol fraco de São Paulo me acordava com um beijo desesperado. Me movia, te acordava. Me sentia sufocada por uma realidade que ainda não aceito e abria a janela do quarto claustrofóbico do hotel com jeitinho de albergue.
Sentava na mesa, acendia um cigarro, soprava pra fora do quarto.Você me olhava daquele jeito incômodo, com olhos de café preto. Logo levantava, me puxava ao encontro do seu corpo, me beijava, dizia um fraco bom dia. Falava do café, do metrô, dos planos. Virava as costas, ia de lá pra cá. Eu queria dançar, rodopiar por aí, me sentir muito Lolita com meus ainda não adquiridos óculos em formato de coração e cabelos ruivos que perdiam a cor a cada moto barulhenta, a cada buzina, a cada lembrança de Brasília e suas superquadras com seus super egos.
Não te falei mas me sentia exausta. Não te falo mas me sinto como esposa. Como Lolita, mãe aos 17, mas sem filho. Só o cansaço. Só o eco da voz das crianças que cantam.