Na cama não sou espaçosa. Me comprimo, me encontro em posição fetal. Suas mãos eram quentes, ainda são. Passavam pelo meu cabelo, rosto. Bochechas, nariz, boca, queixo. Pescoço, ombro. Seios, cintura, bunda, pernas. Pousavam em meu quadril, quentes, como uma fornalha.
Eu dormi todo os dias virada pra janela, se não me engano. A luz do sol fraco de São Paulo me acordava com um beijo desesperado. Me movia, te acordava. Me sentia sufocada por uma realidade que ainda não aceito e abria a janela do quarto claustrofóbico do hotel com jeitinho de albergue.
Sentava na mesa, acendia um cigarro, soprava pra fora do quarto.Você me olhava daquele jeito incômodo, com olhos de café preto. Logo levantava, me puxava ao encontro do seu corpo, me beijava, dizia um fraco bom dia. Falava do café, do metrô, dos planos. Virava as costas, ia de lá pra cá. Eu queria dançar, rodopiar por aí, me sentir muito Lolita com meus ainda não adquiridos óculos em formato de coração e cabelos ruivos que perdiam a cor a cada moto barulhenta, a cada buzina, a cada lembrança de Brasília e suas superquadras com seus super egos.
Não te falei mas me sentia exausta. Não te falo mas me sinto como esposa. Como Lolita, mãe aos 17, mas sem filho. Só o cansaço. Só o eco da voz das crianças que cantam.