domingo, 9 de agosto de 2009

Noite Severina.

Só lembranças, completas e perturbadoras, exatamente como lembranças devem ser. Ela sentia e via como se fosse agora. As pernas entrelaçadas, os cheiros se fundindo e confundindo. Primeiro estranha-se, depois entranha-se. Ambos deitados, a cabeça dela sobre o peito magro e amargo dele. Seu ouvido ouvia doce e cuidadosamente os batimentos cardíacos dele, seu cérebro sentia a concentração dele em passar os dedos longos e bonitos sobre o cabelo embaraçado dela. Terror na tela colorida, e carinho nos gestos. Ela sentiu-se igual, única, principal, compatível. Havia outras pessoas no recinto, mas ela não as via, não as ouvia, não as sentia. Ocupava-se unicamente em absorver a respiração descompassada dele, ocupava-se em reparar nas cores. O colchão em que um dia deitaram juntos ainda estava lá. Outros corpos já o usaram como descanso, outros corpos ousaram retirar o incrível cheiro que ele havia deixado ali. Outros já passaram os dedos sobre os cabelos embaraçados dela, mas nenhum corpo a fez esquecer, nenhum corpo é bom o suficiente para fazê-la esquecer.

O amor que você nega, é a dor que você carrega. Ainda temos todo o tempo do mundo. Abençoados são os que esquecem. Não temos todo o tempo do mundo. Astronauta me diz, cadê você? Amor, não sei porque te chamo assim. Bailarina não consegue mais viver. Com certeza você nem lembra de mim. A tempestade que chega é da cor. Eu respiro seu desejo. Temos nosso próprio tempo. Ali sinto tua alma flutuar do corpo. Dos teus olhos castanhos. Ali tão certo, tão justo, só te sendo. Então me abraça forte. Escravo da tua beleza. Me diz mais uma vez que já estamos distantes. Daqui a pouco o dia vai querer raiar.

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