Passar os dias sentada na escadaria era reconfortante, justamente porque foi uma coisa que você nunca gostou de fazer. Sempre me tirava de lá, queria sair pra comer, pra dançar, pra fumar. E eu gostava tanto daquele lugar, de poder ver o céu, tentar descobrir a que horas ia começar a chover, e essas coisas bem bobas e bem simples mesmo, de menininha nova com o amor-amigo.
E eu cantava Kings of Convenience e você dizia que não tinha praia. Eu cantava Beirut e você dizia que já era noite. Eu cantava The Tallest Man e você dizia que ventava demais. Eu fiquei tão cansada de todas as suas exigências, e eu não te achava em lugar nenhum porque você sempre esteve tão dentro de si mesmo que acabou sumindo do resto do mundo...
E depois de um tempo, o vinho foi ficando tão forte, o café foi ficando tão fraco, o barco já tinha afundado e eu fiquei sozinha com todas as coisas que eu queria te dizer mas você nunca ouviu, por causa da pressa pra se firmar em tudo o tempo inteiro.
O medo que eu nunca tive você tinha por nós dois, e eu via que era difícil caminhar, eu sentia o peso em todos os toques.
Eu gosto da escadaria porque me sinto como você sempre se sentiu. Um pouco acima de todo mundo. É mais fácil ver o que vem pela frente, e as luzes da cidade não atrapalham. Eu sei que tudo que você tem é difícil de lidar, mas só aqui eu entendo.
Só aqui eu te entendo.
Mas no Revéillon, pela primeira vez, seu adeus quis dizer até logo. E pela primeira vez, meu tchau quis dizer até nunca mais.
E agora que partiu, você deixou de ser um? Ou simplesmente deixou de ser?
Um comentário:
quem não vê direito o que vem pela frente acaba dando de cara no muro
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