Ela não sabia como se sentia, como se sentir. As pessoas perguntavam como ela estava e ela não sabia, não poderia saber, já que até um canto a mais ou a menos de algum pássaro fazia uma grande diferença. Tinha atingido o limite. A linha que separa o quase do é, a vida da morte... Drama demais. Sentou no sofá vermelho e olhou para a janela, janela que mostrava a cidade, que abria os olhos para o novo dia aos poucos, meio atordoada, meio cansada de suportar tudo novamente. Pensou sobre a cor dos olhos, o cheiro e o gosto dele, e como isso tudo transparecia nas fotografias que eles tiraram juntos. Em como isso transparecia nas fotografias que ela tirou dele. Sorrisos doces e sinceros. O café esfriou, assim como outras coisas. Precisava de companhia. Escolha aleatória, acabou tirando o vinil da Piaf. Perfeito para o momento. O café frio descia suavemente pela garganta, fazendo uma dança com o coração, que estava prestes a sair, o acalmando, dizendo a ele que aquela não era a solução. Mais dúvidas para o pobrezinho. A quoi ça sert l'amour? Percebeu que o gato cinza não estava por ali, com seus olhos amarelos e hipnotizantes, miando para ela, pedindo um pouco de atenção. Essa era a diferença entre os dois. O gato clamava por uma atenção que ele jamais seria capaz de dar, e ela, ah, ela se contentava com muito pouco. Sempre foi assim, meio perdedora, meio cansada. Olheiras, devaneios e ele. Essa era ela, e a falta de atenção não a incomodava nem um pouco. Ele teria que ir, eventualmente. Ele era assim. Evitava. Quando percebeu, estava sentada no chão, com o álbum de fotos e o caderno verde água no colo, com algumas palavras anotas em uma letra ilegível para outros e apenas feia para ela. Ali estava o gato cinza, apreciando o acordar da cidade, exatamente como ela fazia minutos atrás. Desejou dar uma volta. Sem companhia. Vestiu o casaco verde que ele tanto elogiava e saiu do apartamento gelado...
E eu postaria o final do texto aqui se não tivesse me parecido demasiadamente piegas. Deveria desistir, mas tudo bem, porque "escrever é apenas uma questãod e Sol", e o Sol não anda muito presente...
Não mais.
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