quarta-feira, 9 de setembro de 2009
Stardust
Os pássaros cantavam em um tom assustado na rua que já havia amanhecido. Os carros passavam fazendo um barulho irritante, atrapalhando os pássaros e acordando-o. A luz do Sol que entrava pela janela batia exatamente nos olhos dela, que mesmo com todo o barulho e claridade, permanecia com os olhos fechados e com o sorrisinho sonso no rosto fino, coberto por sardas e mais sardas. Ele teve dificuldade em abrir os olhos. Lembrou-se que sonhou com dinossauros e prédios. Destroços, barulho, gente morrendo. Essas coisas feias para se sonhar com. Tateou o criado mudo ao lado para pegar o celular. Após alguns segundos, achou e apertou algum botão qualquer. Descarregado. Deitou a cabeça com violência no travesseiro novamente. Precisava sair dali. Não queria olhá-la. Tal beleza o deixava envergonhado. Fazia-o se sentir... sortudo demais, e ele nunca foi do tipo que teve muita sorte. Observou um quadro novo, com algumas linhas roxas e azuis, alguns triângulos e quadrados rosas, que estava pendurado no centro da parede verde musgo à frente. Achou bonito. Viu o nome dela escrito, em letras miúdas, no canto esquerdo. Sempre teve uma boa visão, e foi exatamente isso que o ajudou a vê-la brilhando na esquina da rua do bar, dois anos atrás. Mesmo depois de um tempo consideravelmente longo, sentia, com frequência, de que era tudo um sonho. Meio bonito, meio bagunçado, meio utópico demais pra ser verdade. Lembrou dela noite passada, no vestido cinza e vermelho que ele havia dado a ela, que realçava seu cabelo laranja e suas pintas, que mais pareciam pequenas estrelas. Deu um sorriso torto e se sentiu idiota. O cachorro estava no chão, parado, olhando para ele com cara de deboche, se é que cachorros possuem essa "cara". Sentou na lateral da cama, esfregou os belos olhos castanhos e olhou rapidamente para ela, que ainda brilhava, mesmo depois de duas primaveras. Dirigiu-se cuidadosamente a cozinha com o cachorro o seguindo. Esvaziou o cinzeiro no lixinho e guardou o vinho na geladeira. Antes que percebesse, os dedos longos dela estavam entre os fios de seu cabelo e sua bela voz rouca cantava: Twist your head around, it's all around you, all is full of love, all around you. Ela virou-se, fazendo com que ficassem frente a frente. Deu um beijo tranquilo nos lábios secos dele e saiu quase que flutuando, pegando o pequeno cachorro no meio do caminho e abraçando-o com carinho. Ao observá-la, ele esqueceu até das coisas que ele sabia de coração.
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