terça-feira, 23 de junho de 2009
Cayman Islands
Quando a luz do Sol invadiu o quarto, ela não abriu os olhos de imediato. Ficou deitada na cama quente e macia, com o edredom "verde cor de mar" sobre seu corpo magro e cansado. Desnorteada, pensou em motivos para levantar... Sem sucesso. Tentou, com esforço, lembrar que dia da semana era... Sem sucesso. Só sabia que acabara e acordar do melhor sonho de sua vida. Não se lembrava como tinha sido, qual tinha sido, mas sentia e sabia que tinha sido o melhor de todos. Às vezes você acorda sem se lembrar de nada, só com a sensação de ter tido um sonho, com a sensação de ter tido o sonho. Virou, abriu os olhos lentamente, observou o pequeno céu que agora vivia em seu teto. Com pequenas estrelas, planetas e naves alienígenas, que já não brilhavam. As coisas brilhavam mais no escuro, por isso ela gostava tanto dele. Tirou o edredom, que era a única coisa que mantinha seu corpo aquecido e levantou. O piso de madeira estava gelado, o começo do dia estava frio e o céu estava feio. 06:06 no relógio. "Grande coisa", pensou. Escuta um grito, escuta um grito que vem da cozinha, um grito que diz seu nome. Não responde, não se surpreende. O gato, carente que só ele, vem lhe pedir colo. "Eu preciso disso mais que você, Charles" diz ela, fazendo com que o gato fosse embora. Charles não era insistente, mas era rancoroso, ele iria lembrar disso. Ele foi embora, foi embora insatisfeito, mas foi. Ela faria o mesmo em breve. Outro grito. Mais silêncio. Queria revelar seus segredos, dizer porque não queria ir, porque tinha que permanecer ali, exatamente onde estava. Queria revelar seus medos, seus vícios, seus sonhos. Não. Isso só renderia mais pílulas, e mais pessoas não confiáveis querendo saber o motivo das olheiras, e, quando ela dissesse, diriam que está louca, deprimida e que precisa parar de beber tanto café, parar de beber tanto vinho, parar de poluir seu pulmão, parar de limpar sua alma. Ela diria 'não' e a discussão insuportável começaria. Coisas seriam ditas e novos rancores adquiridos. Acha melhor não. Desce as escadas calmamente, meio que resmungando algo que não se pode entender muito bem. A caminho da cozinha, pega o I pod vermelho que estava carregando e coloca os fones no ouvido. Outro mundo, mais calmo. Músicas escolhidas de forma aleatória. Build Up, Kings of Convenience. Gostava do final dessa música, da voz no final da música. Poderia mandar um carta. Não, não sabia o CEP. Poderia mandar um e-mail. Não, não gosta da ideia. E, além do mais, não sabe se ele é como ela, que nunca verifica a caixa de entrada do e-mail. Suas palavras ficariam esquecidas durante horas, dias, meses anos. Um telefonema estava fora de cogitação. Caso perdido, conclui. Não estava com fome, mas, para não dar motivo para falarem, pega um copo de suco, uma torrada com geleia de morango e se esforça para comer. Vários questionamentos. Como iria passar um mês longe? Como iria passar um mês longe sem deixar a máscara cair? Como iria passar um mês longe de seus amigos, de seus vícios, de seus sonhos? Não existiam sonhos longe dali. Os sonhos dela habitavam aquela minúscula e chata cidade. Sua cidade. Flick your cigarette, then kiss me. "Pega suas coisas, está na hora". Nada de conflitos. Vê tudo ficando para trás. Ela deixa tudo, sem ao menos luta pelo contrário. Drama. É só um mês. O céu estava bonito, o vento estava suave, os pássaros cantavam, mas ela não era parte de tudo isso. Look around, look around. Nada. Já era, já foi. Sem final bonito ou lágrimas e declarações no aeroporto. Nada hollywoodiano. Ninguém pedindo pra sair, ninguém pedindo pra ficar. Só o abandono, só o fim, só o... Já foi.
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